terça-feira, 26 de janeiro de 2010

"Meio Século de Folia": resgate histórico do Carnaval de Santo Ângelo

A partir de quarta-feira dia 27 de janeiro estará em exposição junto ao hall de entrada do Centro Municipal de Cultura a Exposição "Meio Século de Folia". Essa exposição foi montada pela primeira vez para o Carnaval de 2008.
Nesse ano ela foi ampliada, indo além do "meio século", pois é composta por diferentes notícias e fotografias dos carnavais de Santo Ângelo das décadas de 1920 a 1980. Tais recortes e fragmentos da tradição carnavalesca local apresentam-se como forma de valorização da história, da cultura e dos costumes de nossa cidade. Os carnavais destas décadas, retratam diferentes faces da maior festa popular do mundo. Tempos de carnavais compartilhados, cantados e pulados, onde as marchinhas e a grande adesão popular às festividades eram marcas registradas. Além das festas nas ruas ao som de tambores e tamborins e do colorido das fantasias e máscaras. Nas imagens e textos é possível vislumbrar fragmentos dos bailes nos clubes de nossa cidade, dos blocos adultos e infantis, das batalhas de confete, serpentina e lança perfume, até o surgimento dos desfiles de rua e das Escolas de Samba.
A exposição é composta por reportagens de diferentes jornais locais ao longo destes mais de 50 anos e fotografias do Acervo do Arquivo Histórico Municipal Augusto César Pereira dos Santos. O Arquivo possui um acervo com mais de 200 fotos com o tema "Carnaval" das quais selecionamos 59 que estarão expostas A maioria das fotografias é de autoria do fotógrafo Bruno Schimitd muitas das quais não possui identificação de local, pessoas ou datas. Porém, guardam momentos peculiares que auxiliam a remontar e rememorar o passado dessa festa que é uma tradição de décadas em Santo Ângelo.
Todos estão convidados a prestigiar a exposição que ficara no CMC até o dia 21 de fevereiro.



Bloco Gravatinhas do "Deustcher Club" (posteriormente Clube Comercial) - Carnaval de 1935.


Bloco "Mexicanos"no Clube 28 de Maio. Década de 60.


Baile de carnaval em Clube da cidade na década de 50. Na mão do folião pode-se perceber um frasco de lança-perfume, considerado droga e proibido em 1961.


Ficha Técnica da Exposição:

Fotografias: Arquivo Histórico Municipal - principalmente do Acervo Bruno Schimidt;
Textos: Darlan Marchi e reportagens dos Jornais A Semana, O Minuano, O Missioneiro, A Gazeta e A Tribuna Regional. (Na transcrição manteve-se a grafia da época);
Produção e Montagem: Andressa Domanski e Darlan Marchi.

Automóveis

Da série do Sr. Augusto Franke, segue as fotografias envidas pelo neto Augusto Bier. Nesse post procuram-se resgatar os automóveis que pertenceram ao Sr. Franke. As fotografias dos carros permitem visualizar as inovações tecnológicas e os avanços nas linhas e design desse importante meio de transporte. O Sr. Elemar de la Rue, sobrinho do Sr. Franke deixou registrado o seguinte:
"Gostos e hábitos particulares do tio Augusto: ele gostava de possuir e andar em automóvel 'bom' e novo, bem equipado. Consta com o primeiro, para mim, um Ford modelo T Sedan, coisa rara naquele tempo. Era um luxo, mas foi levado pela Coluna Prestes mediante termo de requisição. Seguiram-se vários Rugbys de 4 cilindros, depois um Rugby de 6 cilindros. Depois um Buick Marquete 6 cilindros, carro exepcionalmente bom esse. Em 1937, um Opel Olympia, importado da GM alemã. Depois um chevrolet 1939 e, por último, um Chevrolet 1942 'saia e blusa'" .
Segundo Bier, existiu ainda um automóvel anterior ao modelo dito pelo Sr. de La Rue conforme a primeira foto abaixo. Seguem adiante as fotos de três dos automóveis citados.

A.Franke e amigos 1920 – seu primeiro carro.


Augusto Franke e Ford T Sedan. Carro requisitado quando do levante da Coluna Prestes.


A.Franke – Opel Olympia (GM) - 1937


A. Franke. Chevrolet 1942

sexta-feira, 15 de janeiro de 2010

A morada Franke - Bier

Continuo as postagens a partir das informações enviadas pelo amigo Augusto Bier, que ao contar a história da sua família resgata uma parte importante da história da cidade. Desse período da "Casa Franke" e de outros comércios advindos da colonização de imigrantes europeus em direção ao norte da cidade, é que ocorre o industrialização e a expansão da cidade. Santo Ângelo se dividia em duas, conforme os relatos dos moradores mais antigos: O Brasil (no entorno do que um dia fora a Redução Jesuítica e predominantemente formada por descendentes de portugueses) e a Alemanha (da rua 25 de Julho para o norte, onde se desenvolveu o comércio, a estação férrea e as primeiras indústrias e onde predominava a língua alemã).
As fotos enviadas por Bier da casa construida pelo seu avô na década de 1930 na Marechal Floriano, bem como a descrição de fatos familiares e as imagens da cidade a partir da casa, além dos comentários em parte bem-humorados e indignados (dos quais compartilho) dizem de como a cidade se configura e se modifica, de como a história se interconecta, se dilata entre o familiar, o individual e o coletivo. Isso me remeteu à questão da sensibilidade ao se olhar a história das cidades, sensibilidade esta que permeia a obra da historiadora Sandra Pesavento e que ficou registrado em suas palavras quando nos diz que:

"A cidade é objeto da produção de imagens e discursos que se colocam no lugar da materialidade e do social e os representam. Assim, a cidade é um fenômeno que se revela pela percepção de emoções e sentimentos dados pelo viver urbano e também pela expressão de utopias, de esperanças, de desejos e medos, individuais e coletivos, que esse habitar em proximidade propicia".

"A foto a cores mostra a casa que meu avô construiu em 1930,
na Marechal Floriano, 1253. Quando foi mobiliada, veio uma
revista alemã pra fazer matéria sobre como os descendentes
teutos viviam bem no Brasil. Foi quando Vargas ainda tava
simpático com a Alemanha. Atrás da árvore, no lado esquerdo,
aparece um telhado. Era do chalé onde Prestes morava quando
levantou a guarnição em 1924".



"Foto da casa recém construída, vista dos fundos. Atrás do galplão, à direita,
o cume do chalé de Prestes. Quando foi desocupado pelo capitão, meu
avô mudou-se para lá. Antes, morava no porão da loja, onde ele, minha
avó, Paula Franke,
e duas crianças sofreram tifo. Foram salvas pelo Dr. Gatz, médico prático
formado nas trincheiras da Primeira Guerra, cujo hospital já foi
demolido, putamerda!
A fundo, no lado esquerdo, aparece o prédio construído pela família
Lucca, em 1919.
Tá descaracterizado pelo comércio. Putamerda de novo!"


"Vista dos fundos. Foto voltada pra estação do trem. Pode-se ver o pavilhão de
carga e alguns vagões parados. Mais à esquerda, a chaminé e a caixa dágua da
Cia. de Fumos, que hoje abriga uma bicheira chamada Adhara. Bem na
esquerda aparece
o prédio que ainda existe do antigo Hotel Avenida".

"Na foto tirada da janela grande da sala de costura, na frente, aparece o terrenodos galpões na ferrovia. O prédio mais alto, no centro da imagem, é doHotel Brasil, na Marechal Floriano".

segunda-feira, 11 de janeiro de 2010

Da Casa Franke

Esse espaço virtual traz muitas surpresas. Nos últimos dias de 2009, o conhecido chargista santoangelense Augusto Bier comentou a postagem que fiz sobre a "Casa Franke", que se localizava no prédio da esquina da rua Marechal Floriano com a 25 de Julho. Bier não só comentou como me enviou imagens e informações sobre essa importante casa comercial que pertenceu ao seu avô Augusto Franke. As informações repassadas dizem não só da Casa Franke, como do chalé onde residiu Luis Carlos Prestes, da casa residencial do Sr. Franke e imagens antigas da igreja de São Miguel, merecendo postagnes em separado sobre cada assunto.
Segue abaixo algumas fotos e texto explicativo que Bier nos enviou sobre a Casa Franke. Ao amigo Bier agradeço a colaboração e pelas preciosas informações e imagens que contribuem muito para o resgate histórico de nossa cidade.


"É da visão da loja. O imóvel comprado em 1924 era composto apenas pela parte antiga da esquina, identificada pelos frontões diante do telhado. A porta da esquina e três janelas deram início ao comércio. A outra, mais à esquerda, e uma janela, davam pro escritório. Veja a bomba de gasolina na calçada. Até hoje o tanque está lá, enterrado, provocando afundamentos na calçada.
Da metade do prédio pra esquerda ficavam os depósitos recém erguidos, sendo o último de sal. Vivia com a parede esfarelando. A loja ia até a divisa com a casa dos Lucca, que eu indiquei na foto tirada dos fundos da casa. Pois foi na porta do meio da parte nova que, em 1967, meu pai, o Mr. Bier, fundou a primeira escola de inglês de Santo Ângelo. A sala ficava vizinha do
escritório da loja e tinha sido herdada por uma das filhas do Franke, falecido em 1964. Como
havia comércio na parte da minha mãe, na 25 de julho, meu pai alugou da herdeira que vivia em Poa.
Imagina um quadrado dentro da quadra. A Casa Franke ia, na Marechal, do limite com a casa dos Lucca, e dobrava na 25 de julho até onde tá a Casa/Galeria Jota hoje. Na extremidade da Marechal ficava um portão onde entravam veiculos de carga de toda a região. Condutores almoçavam no pátio mesmo. Muitas vezes minha avó, Paula Franke, era a cozinheira".



"É festa de fim de ano com os funcionários da Casa Franke. Década de 1930. Meu avô Augusto é o cara de gravata e suspensórios sentado atrás do barril. Ao lado, Arvino Franke, irmão e sócio que mais tarde daria um desfalque mortal na firma".


Casa Franke em 1928.

quarta-feira, 6 de janeiro de 2010

Reflexão (ou divagação) de início de ano


Chegamos em 2010. Início de uma nova década. Muita gente dizia que não chegaríamos no ano 2000 e que o inicio de um novo século e milênio prenunciava o fim dos tempos. Em todo caso, isso já faz 10 anos, mas pensando bem, acho que o fim do mundo não será com bombas, invasões alienígenas, catástrofes naturais etc. Acho que “o fim” já está em processo, nas relações tramadas pelo próprio homem com os fios da discórdia, do poder, dos interesses pessoais e econômicos em detrimento do humano.
O que se vê e se lê por aí é que o mundo avançou muito nesses últimos 10 anos. A expansão tecnológica, o acesso à bens e serviços, a comunicação. O encurtamento das distâncias, promovido pelo processo alienante e desenfreado da globalização ficou mais visível nessa década que se finda, assim como a falta de rumo da humanidade. Parece até um processo às avessas: quanto mais diz que avança mais o ser humano regride. Chego a pensar que em breve seremos macacos dirigindo carrões, morando em arranha céus, acessando a internet (me desculpem os macacos, mas não encontrei outro animal para essa analogia e já que somos seus descendentes conforme a ciência, preferi não botar outro bicho nessa história). Queria poder dizer que estou sendo pessimista, mas infelizmente não posso, creio até estar sendo pouco realista ao dizer que isso ocorreria “em breve”, pois o que se tem visto de macaquices por aí não é brincadeira.
De que adianta os “avanços” da ciência se o homem não se entende nisso tudo. O que se vê é que ele tem se perdido cada vez mais nesse processo. Ô bicho complicado! Mas, “puxando a brasa pro meu assado”, acredito que boa parte disso provém da falta de percepção do homem sobre sua historicidade. Falta a compreensão de que somos hoje continuidade de um todo que perpassa a atualidade e que seguirá, independente da nossa permanência sobre a Terra. Afinal, contra o tempo ninguém pode. Tem uma frase de uma peça do Caio Fernando Abreu que diz que “o tempo burila o tosco”. E existe hoje algo mais tosco que as ações impensadas do ser humano? Complementaria isso com aquela máxima de que “o tempo é implacável”.
Vive-se hoje com o pensamento no próprio umbigo. Pensa-se em viver o agora, e em se garantir para o futuro próximo, como se isso fosse possível. Quantos de nós paramos para pensar que tudo isso demanda de uma caminhada do nosso passado vivido? E de um passado anterior a nós? E digo ainda, do passado mais remoto da humanidade? Por que será que insistimos tanto nos mesmos erros há anos? Por que será que não aprendemos com as adversidades? Porque será que mesmo sabendo as respostas insistimos nas alternativas contrárias? Posso estar sendo prepotente em afirmar isso, mas a resposta é a falta de reflexão sobre nossa história. Mas para refletir é preciso conhecer a história, o que já elimina nesse estágio boa parte da população.
Gosto de aproximar minhas ideias com situações locais. Por isso, ressalto meu pensamento através das contradições existentes em Santo Ângelo quando falamos em história. Aqui na cidade, nossos representantes enchem a boca há anos para falar em seus discursos do “solo missioneiro”, do “ser missioneiro”, do turismo, da nossa rica história de 300 anos, mas protelam ao máximo as políticas públicas para a proteção do patrimônio histórico local. Não sabem do que falam, não conhecem a sua própria história, representam uma comunidade mas não buscam suas raízes. São os inventores de um “missioneirismo” de fachada. Vale lembrar-lhes que é da proteção desse patrimônio, material ou imaterial (porque não é só de prédios que estamos falando, caso algum legislador desinformado não saiba) que a sociedade atual e do futuro se espelhará para o desenvolvimento da cidade.
Mas isso tudo está dentro daquele processo maior do qual falava anteriormente. Analisando a história política local dos últimos 150 anos, a falta de apreço aos bens culturais locais não deveria mais me causar espanto. Não sei ainda como consigo me indignar. Acho que é pelos meus 24 anos de vida, que ainda me permitem alimentar utopias e acreditar que vale a pena insistir. Acho que é também porque acredito no ser humano, não em todos...existem exemplares em que realmente não deposito esperanças...Confesso que minha prepotência as vezes, chega ao nível de querer poder intervir na teoria de Darwin e incluir alguns critérios para a seleção natural da espécie.
Por fim, continuo acreditando na força de armas como a arte, a cultura e o conhecimento da história. Ao contrário das armas comuns, que causam dor e destroem, essas silenciosamente atingem aquilo que comanda as ações do homem no mundo: a sua sensibilidade (ou a falta dela). Creio que é de uma visão mais sensível e menos materialista que precisamos. Afinal de contas, ou olhamos para o passado com mais respeito e responsabilidade ou continuaremos no caminho de nossas ações impensadas, da superficialidade que tem marcado a sociedade mundial e acabaremos por deixar que o tempo se encarregue do resto.