quinta-feira, 24 de setembro de 2009

O Cine Apollo

Foto do prédio do Cine Apollo em 1927.


No Jornal da Comunidade Regional de 26 de setembro de 1991, o senhor Pacifico Berni Fiorenza, rememorava alguns acontecimentos em torno do primeiro cinema de Santo Ângelo. O Cine Apollo localizava-se na Rua Antunes Ribas, na quadra entre a Rua 25 de Julho e a Sete de Setembro. Através de suas palavras conseguimos nos reportar àquele período e remontar pela imaginação um pouco da atmosfera cultural e social da antiga Villa de Santo Ângelo. Segue abaixo o texto transcrito em sua totalidade:

“Cine Theatro Apollo

Se não me engano, era assim, com esta grafia, que seu nome estava escrito em grandes letras negras no cimo de sua fachada.
Sua frente, com mais sala de espera, bilheteria, escada de madeira para um acanhado 2º piso, onde estava instalada a cabine de filmagem, ladeada por dois camarotes de 2ª classe, era de alvenaria. O restante, sala de projeção (platéia) e palco eram de madeira. A tela cinematográfica era removível, assentada num plano mais elevado e o palco estava atrás dela. Nas laterais da platéia, estavam os camarotes de 1ª classe, os quais impediam que as fileiras de poltronas tivessem seu começo ou fim junto às paredes da sala. Por estarem eles, em plano superior a altura de uma pessoa de estatura mediana, mesmo assim, tinha que curvar-se um pouco. Mais tarde foram removidos, mas nos primeiros tempos, tiveram grande destaque, sendo um ou dois permanentemente destinado à rainha. As poltronas eram de madeira lustrada com acentos móveis, isto é, dobráveis quando desocupados. Haviam 2 ou 3 grandes ventiladores ao correr do meio do teto e 6 a 8 pequenos giratórios nas laterais. Fui bilheteiro e porteiro no então velho e saudoso Apollo.
A rainha era muito bonita, pertencia a família Biermann. Vestia-se refinamente e era motivo de entusiasmo e admiração vê-la passar com seu séqüito ou observá-la em seu camarote, muitas vezes acompanhada de seu namorado, o Neco na intimidade de seus familiares e amigos. Dificilmente faltava uma sessão cinematográfica e em cada parte existia um pequeno intervalo, ocasião para tornar-se a ver a soberana.
Ah!... O Cine Apollo!... Marcou época com sua pompa, sua rainha, seus filmes, seus espetáculos teatrais e seus mistérios. Quantas emoções foram ali despertadas?! Quantos namoros tiveram ali seu começo?! Em sua grande maioria ingênuos, infantis, adolescentes e até adultos maliciosos e por isto, entremeados de alguns pensamentos pecaminosos. Ir ao Apollo, era preencher parte do lado emotivo da vida.
Sua inauguração teria sido antes de 1930, lembro-me que os filmes na época chamados de fitas, que superlotavam era as de Tom Mix com seu cavalo ensinado Tony e sua eterna namorada Mary. Eram em branco e preto com cenas simples, despretensiosas e mudas, tendo legenda em português para entendimento dos diálogos, que em muitos filmes apareciam depois da cena, mesmo assim, os expectadores de deliciavam.
Mais adiante ainda na época do Tom Mix, foram aparecendo, Oto Gibson, Buck Jones, Tim Mac Coy, Willyam Desmond, Tom Tyller, representando enredos semelhantes, sem no entanto, empanar-lhe a imagem de astro preferido. Posteriormente, quando já se comentava que brevemente viria o cinema falado e se era corrido para cinema sonoro pelos mais atendidos, foram surgindo novos cow boys, que deram origem aos grandes Westerns com cenas mais arrojadas e enredos aprimorados, como Jornadas Heróicas, Duelo ao Sol, Bufallo Bill e tantos outros, encarnados pelos espetaculares astros Gary Cooper, Gregory Pech, John Barrimore, Henri Fonda, Tyrone Power. Neste mesmo tempo estavam despontando as fitas dramáticas, comédias, aventuras, espionagem, policiais, operetas, ficção cientifica e de horror. Recordando algumas, cito as seguintes: - Gavião do Mar, Pirata Negro, Estudante de Praga, Últimos dias de Pompéia, Ben Hur, Dama das Camélias, Ana Karenina, O pecado de Madelon Claudete, Diabo Branco, Conde de monte Cristo, Luzes da Cidade, Espiã 13, Mentiras da vida, Daqui a cem anos, Médico e o Monstro, Irmã Branca, As 4 penas, Horizonte Perdido, Fantasma da Ópera, Os Miseráveis, O Homem que ri, Corcunda de Notre Dame, Beau Gest, O Morro dos Ventos Uivantes, Patrulha da Madrugada, Zepellin, Desonrada, Os 3 Mosqueteiros, Drácula, Frankstein, Zubie Legião dos Mortos, Scherlock Holmes. Entre outros, foram filmes que marcaram época. As pessoas deixaram o cinema arrebatados pelo enrêdo, pela interpretação dos artistas e pela finalização, quase sempre feliz para os elementos de bom caráter (mocinho, mocinha e seus amigos).
Seguidamente troupes, mágicos e músicos apresentavam-se no teatro. Ribeiro Cancela chegou a se apresentar 2 vezes num mesmo ano com sua afamada companhia. Nele também se apresentou diversas vezes, o valoroso e admirado boxista, filho da terra, sr. Domingos Fortes (DOMINGÃO), demolindo em luta de boxe tantos quantos lhes desafiaram”.

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