segunda-feira, 13 de junho de 2011

LENDAS URBANAS


Ao querer sintonizar uma rádio esotérica para fluir a crônica, não consegui e são exatamente doze horas, e começo a escutar o belo replicar dos sinos da igreja matriz que funcionam como uma orquestra, soam memórias de um povo.Tudo começa... Nostalgia, o som toca dentro do meu corpo humano, é uma sensação que realmente não consigo descrever. O significado oculto das badaladas do sino... sino, coração da cidade e da gente.
Meu amigo misterioso não tirava da sua cabeça o boné preto, trazia muitas histórias e não economizava palavras. Sempre sentava no mesmo banco da praça Pinheiro Machado, voltado para o leste onde podia visualizar pelos galhos das árvores, o belo céu azul celeste. Seus tímidos gestos lembravam a presença da doença de Parkinson.
- Meu trabalho sempre foi digno de ser realizado. Tinha que algumas vezes realizar horas extras, trabalhar à noite por solicitação do prefeito Odão Felipe Pippi. Era apenas ajudante como se diz hoje, officie boy, mas dava para sustentar a mulher e dois filhos pequenos, pois complementava meu trabalho como mecânico da oficina do senhor Juca.Enquanto escrevia um discurso para o prefeito, numa solidão tremenda, somente eu e Deus,ouvi o ruído das batidas da máquina escrever que ecoavam naquela sala que ficava a secretaria da prefeitura. Mas, aconteceu algo diferente naquela noite. Quando estava saindo da sala onde trabalhava continuei a ouvir alguém trabalhando na máquina de escrever, retornei a abrir a porta... simplesmente não enxerguei nada, nenhuma pessoa, mas, o som continuava e só restou sair porta afora do local do trabalho.
O tempo passou, e eu comecei a investigar esta história contada pelo meu amigo para fazer parte de um projeto Lendas Urbanas. Em busca de dados resgatei algumas história orais e outras ficarão no anonimato pois, muitos negaram relatar alguma coisa sobre a lenda.
Até hoje, no tempo pós- contemporâneo onde a informatização e a cibernética estão presentes no cotidiano do ser humano esta história continua. Seu Joel, guarda da prefeitura municipal, atualmente realiza trabalho diurno relatou que, às 3 horas de uma noite fria, nem lembra a data, disse que ouviu o barulho lá em cima no segundo piso de um serrote serrando madeira e martelo batendo na parede. Ele afirma nitidamente que ouviu o som e foi ver o que estava acontecendo... Não avistou nada e desceu correndo as escadas todo arrepiado e com seu medo. Silenciou até quando uma rádio de Porto Alegre resolveu uma entrevista- lo. Detalhe, não lembra quem foi o entrevistador.
- Sabe, dona Eunísia, também vi pelo monitor uma mulher subir a escada toda vestida de azul forte, não pude ver seu rosto. Chamei a colega que já estava indo embora, pois já eram 17horas da tarde e fomos atrás para saber quem era. Com toda coragem subimos as escadas, andamos pelo prédio superior, em cada repartição e nada de ver alguma coisa. Até agora, contando esta história, parece que estou vendo ela no monitor.
Minha curiosidade fica cada vez mais aguçada e tento instigar seu Joel a realizar mais relatos que sabe,ouviu falar ou contar. Reluta um pouco e deixa escapar o pensamento e complementou:
- O guarda noturno, como sempre realizando as observações necessárias da profissão, parado ao portão avistou de longe, era 3 horas da madrugada, uma bola de fogo naquele banco da praça. Ela rolava em círculo e chamou o colega que estava conversando com ele. E chegaram perto e não avistaram nada .
 Mas como falou a cigana: - No pátio do prédio da prefeitura municipal era o cemitério antigo dos índios e jesuítas. Cruz credo, mas aquele homem de capa preta parece uma alma perdida, ele caminha e ao mesmo tempo dá a impressão que está volitando todas as noites na praça Pinheiro Machado. Fixa o olhar com nostalgia para o prédio da prefeitura, como se quisesse desenterrar um corpo conhecido.
A memória talvez brinca com o tempo, faz do imaginário popular uma lenda folclórica.





Um comentário:

  1. Hahaha!ótima crônica Eunísia.Quanto ao episódio da bola de fogo eu estava lá.Abrç!

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