segunda-feira, 14 de setembro de 2009

O dia-dia nas reduções


Os guarani das missões atribuíam uma enorme importância à religião católica e suas práticas, inicialmente era um fator externo, introduzido pelos jesuítas, mas com o tempo e as horas destinadas aos cultos, missas, sermões e catequese, os índios cederam às pregações e tornaram-se fiéis devotos do catolicismo. Dentre essas práticas destacavam-se o ensino religioso a todos os índios, principalmente às crianças, os cultos e missas diários, o esplendor dos trabalhos destinados a decoração das igrejas e a devoção dos índios ao receberem os sacramentos.
Quanto aos sacramentos, o matrimônio é que define o perfil da vida familiar guarani na redução. Os padres instituíram o casamento dentro de uma cultura que até então era poligâmica, que aceitava o divórcio e o infanticídio. Para pregar a moralidade sexual, os jesuítas implementaram o casamento precoce, a partir dos 15 anos para as moças e dos 17 anos para os rapazes. Matrimônios esses que se realizavam de forma coletiva com dezenas de casais na igreja da redução. Cada casal tinha em média de três a quatro filhos que eram orientados pelos padres nos colégios e nesses ficavam desde os sete anos, enquanto os pais trabalhavam nos diversos segmentos de atividades da comunidade.
Os padres precisavam alimentar os índios e sustentar a redução, havendo então a necessidade cada vez maior da expansão do trabalho e da diferenciação de serviços que viessem suprir as necessidades da comunidade. Nesse processo, o problema principal foi o costume do guarani pré-jesuítico com seu sistema tribal de doação e sua falta de interesse por tarefas repetitivas e cansativas. Por isso, era necessário estimulá-los a realizarem as tarefas diárias de formas diferentes, sendo a competição a mais utilizada, através de jogos, trabalho em equipe e campeonatos.
O sistema de propriedade na redução era coletiva. Cada indivíduo era dono apenas de seus objetos pessoais, fora isso até as ferramentas utilzadas no cultivo da terra era de ordem comunitária. Os indivíduos recebiam terras particulares para o sustento da família porém precisavam trabalhar nas terras coletivas para a manutenção da comunidade. Eram coletivos também os meios de transporte (barcos e carros de tração animal), as áreas de mato, as estâncias, os ervais e até as casas de moradia. Cada família diariamente recebia sua porção de erva-mate e carne que provinha das terras e campos coletivos. O senso de coletividade guarani impediu o desenvolvimento de uma civilização dentro do preceito capitalista europeu. Quanto ao comércio nas reduções Bruxel destaca:

"Dentro da mesma Redução, os índios particulares só podiam trocar entre si coisas dispensáveis e supérfluas, adquiridas por própria indústria ou doadas pela comunidade; não, porém, os bens necessários à vida e ao trabalho, fornecidos pela comunidade. (...) Quanto ao comércio entre duas Reduções será lícito dizer, de modo geral, que não havia comércio entre particulares, nem entre uma comunidade e particulares da outra. (...) mas o que escassava em uma redução podia abundar na outra. (...) No comércio com os espanhóis, todas as vendas e compras dos Trinta Povos eram, normalmente, feitas por meio dos Ofícios de Santa Fé e Buenos Aires, para onde desciam os barcos missioneiros após a colheita da erva-mate. O padre procurador de Ofício, missionário conhecedor de índios e Reduções, e interessado em tudo quanto lhes dizia respeio, procurava logo vender a bom preço os produtos indígenas, antes que o mercado se saturasse. Fazia igualmente as compras para cada Redução". (1987: 89-91)

Entre as regras da Companhia de Jesus estava a da fundação de um colégio primário junto a cada redução. Muito mais do que simples escola para que os índio aprendessem a ler e escrever, era preciso formar cristãos que também se tornassem lideranças frente à comunidade e auxiliassem na administração do povoado. Os padres de início ficaram responsáveis pela educação até a formação de mestres entre os indígenas. Nos povoados os dois idiomas, espanhol e guarani, foram instituídos como oficial. Os jesuítas tiveram que aprender o idioma para que fosse possível implementar seu projeto de conversão dos guarani. Muitas cartilhas, livros e catecismos foram traduzidos do espanhol para o guarani e impressos nas reduções.


Fonte: BRUXEL, Arnaldo. Os trinta povos Guaranis. Porto Alegre: EST/Nova Dimensão, 2ª ed. 1987.

2 comentários:

  1. Maravilhoso trabalho de pesquisa e levantamento da historia da nossa amada cidade, estas fotos e material do acervo disponibilizadas neste blog sao joias da nossa historia.

    Continuem com este trabalho exemplar! Gostaria de contribuir com scanners de postais dos anos 50 a 70 da minha colecao particular.

    Contato: ferpasan at gmail dot com

    Obrigado!

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  2. Valeu Fernando!
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    Vc pode enviar os scanners para culturasa@bol.com.br ou então manda um e-mail ou liga pra gente dizendo onde podemos retirar os originais com vc e scaneamos aqui...O telefone do Arquivo é 3313 6321.
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