sexta-feira, 4 de setembro de 2009

O Primeiro Ciclo Missioneiro



Quando do achamento do novo continente pelas duas potências ibéricas (Portugal e Espanha), uma nova discussão advinda agora de uma disputa entre os dois paises viria tornar-se imprescindível na implantação do projeto missionário e alteraria a fisionomia do espaço onde hoje é o Rio Grande do Sul: as questões fronteiriças, iniciadas com a assinatura do Tratado de Tordesilhas.

"Assim, durante todo o século XVI e parte do XVII, os espaços americanos, situados entre os dois impérios ibéricos, foram inicialmente “confins”, limites vagos de territórios subpovoados, mas onde as frentes de expansão, gradualmente, tendiam a se tocar, principalmente nos vales do rio Paraná e Uruguai, ultrapassando, algumas vezes o incerto meridiano de Tordesilhas. [...] se a geografia é condição básica para a fronteira, não constitui o seu essencial. A fronteira é mais do que um fato físico, ou natural. Ela o é também político, ou mesmo psicológico, ou cultural. E se desloca ao sabor dos processos históricos da colonização. [...] no vale do Rio Uruguai, a fronteira deslocou-se por diferentes paisagens geográficas, ao sabor das oposições de interesses representados pelos bandeirantes e jesuítas, sempre antagônicos". (KERN, 1982: 157)

Assim, após o tratado da-se início ao primeiro ciclo missioneiro. No atual território do Rio Grande do Sul, em 1626, começa a formar-se as reduções jesuíticas do Tape. Os guarani apresentavam o perfil psíco-social necessário para a vida em uma redução, conforme o projeto jesuítico. Eram horticultores, viviam em em comunidade e tinham um grande interesse pelas artes, porém alguns traços da cultura guarani impedia a cristianização desse povo, como os rituais de antropofagia, de bebedeiras, a poligamia e a falta de vontade para o trabalho. Conforme Arnaldo Bruxel:

"Tinha o guarani, em suma, muitas qualidades naturais favoráveis ao cristianismo, mas tinha também não poucas disposições que lhe eram adversas. As primeiras foram prudentemente aproveitadas; as últimas, paulatinamente corrigidas, com abnegada paciência e vigilância". (1987: 11)

Essa primeira fase ficou marcada pelo confronto entre os missionários e bandeirantes. Mesmo antes da fundação de reduções nesse território, esse confronto já acontecia nas regiões de Guairá e Itatim na margem esquerda do rio Paraná. A fundação de reduções na região do Tape foram estabelecidas devido a esses freqüentes ataques de bandeirantes paulistas em busca de mão-de-obra indígena. A região dos rios Paraná e Uruguai apresentavam as características necessárias para o desenvolvimento das reduções, com grandes campos, florestas e terras férteis. Porém, não conseguiram impedir os ataques dos bandeirantes paulistas. Inúmeras reduçoes foram fundadas mas não conseguiram manter-se devido as cruéis intervenções dos escravizadores de indígenas. Os padres só conseguiram lograr sucesso após o enfrentamento com os bandeirantes, onde destaca-se a Batalha de Mbororé, onde os guarani, sob comando jesuítico derrotaram a bandeira comandada por Jerônimo Pedroso de Barros. A partir desse instante, é que os jesuítas encontraram trégua para reestruturar seus projetos reducionais.
Fonte:
BRUXEL, Arnaldo. Os trinta povos Guaranis. Porto Alegre: EST/Nova Dimensão, 2ª ed. 1987.
KERN, Arno Álvares. Missões: Uma utopia política. Porto Alegre: Mercado Aberto, 1982.

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