O artista em 1940.
Por Manoelito de Ornellas - Jornal O Correio do Povo em 23 de maio de 1961.
Por Manoelito de Ornellas - Jornal O Correio do Povo em 23 de maio de 1961.
"A imprensa falada ou escrita da Metrópole não chegou, na síntese de uma frase sequer, a noticia da morte, em Santo Ângelo, do escultor tirolês Valentin Von Adamovich. E se a imprensa noticiasse a morte do artista omitiria, por desconhecimento, alguns pormenores da vida do homem que procurou no anonimato da humildade e da pobreza, a paz de espírito que os outros homens lhe roubaram.
Adamovich conheceu, na juventude vivida na Europa, todos os favores da fortuna. Seu pai governara o Tirol e sua família de cunho fidalgo, distinguia-se na escala social de seu país.
Aluno dos melhores de sua cidade, Adamovich conquistou um dos primeiros lugares na Escola de Belas Artes de Innesbruck, a cidade mais notável da região alpestre que se incrusta entre a Itália e a Áustria.
Foi no leito de um hospital de Porto Alegre, quando esperava pela sentença fatal de um diagnóstico que devia ignorar, que ele lembrou, não sua fortuna passada nem suas conquistas de vocação, mas a terra onde vivera. Havia no fulgor de seus olhos vivos e bons, uma saudade timidamente confessada. Saudade dos vales emoldurados por gigantescas montanhas, onde os camponeses do Tirol Austríaco apascentam seus rebanhos. E contou-nos da habilidade surpreendente daqueles homens altos e robustos que escalam as montanhas pelas ravinas e aos quais ninguém ousaria vencer, no alvo de um tiro de caça. A dança, a música e o canto, completam-lhes a vida.
Adamovich dividia sua curiosidade, na infância e na juventude, entre o rumor festivo das famosas escolas de Innesbruck e o movimento turístico das épocas de estio, quando as vias férreas que atravessavam o maciço alpestre, de Munique a Verona, pelo Brenner, ou Zurique a Linz, pelo Arlberg, carregavam os viajantes do mundo para os rumos do sul.
Havia nas suas evocações, um fundo de incofessada melancolia. Era um menino quase, quando fez a Segunda Guerra Mundial (creio que o autor quis dizer Primeira Guerra Mundial). Estafeta, numa região alpestre, vencera taludes e alcantis cobertos de neves, para chegar a tempo de salvar, com sua mensagem, um contingente de exército. Colocaram-lhe ao peito a mais alta condecoração de guerra de seu país, pela bravura do gesto. Escrevera uma página de De Amicis, digna da antologia de “El Cuore”.
Deixou seu país, a família ilustre, sua bela cidade, toda voltada para arte, seu povo alegre, amigo da música e das canções pela miragem do Brasil. É certo que ninguém lhe contara, na forma de Scherazade, histórias miraculosas do nosso país. O Brasil, e o Brasil do sul, surgiram-lhe à imaginação no retrato bruto e selvagem das memórias de seu patrício, o Padre Antônio Sepp que, como ele, nascera no seio daqueles vales guardados pelos Alpes e estudara na mesma cidade que foi sua, recolhendo na alma jovem, as melodias de seu povo, com o qual aprendera a cantar, para ilustrar depois o mais belo coral de Viena. Foi a lembrança do Padre Sepp que trouxe Adamovich à Região Missioneira, no Vale do Uruguai.
Na segunda grande guerra mundial, Adamovich já era pai de jovens brasileiros nascidos nas Missões. Não queria outra pátria. Fizera sua a pátria de seus filhos. Mas uma dessas violências, nascidas do primarismo da espécie humana, na hora trágica das lutas, esqueceu a condição do artista, pai de pequenos brasileiros, para exercer sobre o artista indefeso a vingança de um ultraje pelo qual não respondia e que ele mesmo condenava: o afundamento dos barcos brasileiros nas águas do Atlântico Sul... E queiram-lhe os livros de arte trazidos da Universidade de Innesbruck... Foi então que fixou sua residência em Santo Ângelo.
Adamovich entristeceu para sempre e a mágoa da afronta que sofreu, foi uma sombra eterna sobre sua vida apagada e humilde.
Voltou-se à arte, à escultura em pedra, que amava. Um dia, realizou o monumento ao Pe. Antonio Sepp, às portas da antiga redução de São João Batista. Talhou no arenito vermelho, a figura do Taumaturgo das Missões, com um pouco de sua tristeza na tristeza do Padre.
Realizava agora monumento eqüestre do Índio Sepé Tiaraju quando enfermou. Deixou pronto o pedestal e duas figuras de índios. Não voltou mais ao martelocom que trabalhava o granito.
Veio a Porto Alegre onde encontrou amparo generoso de homens bons. Voltou a Santo Ângelo para morrer. A ciência já não podia vencer o mal que lhe tomava o organismo, devorando-o. Tombou. Caiu, sem terminar a obra mais sonhada de sua vida. E caiu humilde e pobremente, da mesma forma porque tombou o seu irmão dos Alpes, aquele benemérito Padre Antônio Sepp, que tudo renunciara do grande mundo, pelo sonho da catequese na América. O Santo e o Artista reencontraram sua pátria nas alturas, de onde haviam trazido a melancolia dos exilados..."
Adamovich conheceu, na juventude vivida na Europa, todos os favores da fortuna. Seu pai governara o Tirol e sua família de cunho fidalgo, distinguia-se na escala social de seu país.
Aluno dos melhores de sua cidade, Adamovich conquistou um dos primeiros lugares na Escola de Belas Artes de Innesbruck, a cidade mais notável da região alpestre que se incrusta entre a Itália e a Áustria.
Foi no leito de um hospital de Porto Alegre, quando esperava pela sentença fatal de um diagnóstico que devia ignorar, que ele lembrou, não sua fortuna passada nem suas conquistas de vocação, mas a terra onde vivera. Havia no fulgor de seus olhos vivos e bons, uma saudade timidamente confessada. Saudade dos vales emoldurados por gigantescas montanhas, onde os camponeses do Tirol Austríaco apascentam seus rebanhos. E contou-nos da habilidade surpreendente daqueles homens altos e robustos que escalam as montanhas pelas ravinas e aos quais ninguém ousaria vencer, no alvo de um tiro de caça. A dança, a música e o canto, completam-lhes a vida.
Adamovich dividia sua curiosidade, na infância e na juventude, entre o rumor festivo das famosas escolas de Innesbruck e o movimento turístico das épocas de estio, quando as vias férreas que atravessavam o maciço alpestre, de Munique a Verona, pelo Brenner, ou Zurique a Linz, pelo Arlberg, carregavam os viajantes do mundo para os rumos do sul.
Havia nas suas evocações, um fundo de incofessada melancolia. Era um menino quase, quando fez a Segunda Guerra Mundial (creio que o autor quis dizer Primeira Guerra Mundial). Estafeta, numa região alpestre, vencera taludes e alcantis cobertos de neves, para chegar a tempo de salvar, com sua mensagem, um contingente de exército. Colocaram-lhe ao peito a mais alta condecoração de guerra de seu país, pela bravura do gesto. Escrevera uma página de De Amicis, digna da antologia de “El Cuore”.
Deixou seu país, a família ilustre, sua bela cidade, toda voltada para arte, seu povo alegre, amigo da música e das canções pela miragem do Brasil. É certo que ninguém lhe contara, na forma de Scherazade, histórias miraculosas do nosso país. O Brasil, e o Brasil do sul, surgiram-lhe à imaginação no retrato bruto e selvagem das memórias de seu patrício, o Padre Antônio Sepp que, como ele, nascera no seio daqueles vales guardados pelos Alpes e estudara na mesma cidade que foi sua, recolhendo na alma jovem, as melodias de seu povo, com o qual aprendera a cantar, para ilustrar depois o mais belo coral de Viena. Foi a lembrança do Padre Sepp que trouxe Adamovich à Região Missioneira, no Vale do Uruguai.
Na segunda grande guerra mundial, Adamovich já era pai de jovens brasileiros nascidos nas Missões. Não queria outra pátria. Fizera sua a pátria de seus filhos. Mas uma dessas violências, nascidas do primarismo da espécie humana, na hora trágica das lutas, esqueceu a condição do artista, pai de pequenos brasileiros, para exercer sobre o artista indefeso a vingança de um ultraje pelo qual não respondia e que ele mesmo condenava: o afundamento dos barcos brasileiros nas águas do Atlântico Sul... E queiram-lhe os livros de arte trazidos da Universidade de Innesbruck... Foi então que fixou sua residência em Santo Ângelo.
Adamovich entristeceu para sempre e a mágoa da afronta que sofreu, foi uma sombra eterna sobre sua vida apagada e humilde.
Voltou-se à arte, à escultura em pedra, que amava. Um dia, realizou o monumento ao Pe. Antonio Sepp, às portas da antiga redução de São João Batista. Talhou no arenito vermelho, a figura do Taumaturgo das Missões, com um pouco de sua tristeza na tristeza do Padre.
Realizava agora monumento eqüestre do Índio Sepé Tiaraju quando enfermou. Deixou pronto o pedestal e duas figuras de índios. Não voltou mais ao martelocom que trabalhava o granito.
Veio a Porto Alegre onde encontrou amparo generoso de homens bons. Voltou a Santo Ângelo para morrer. A ciência já não podia vencer o mal que lhe tomava o organismo, devorando-o. Tombou. Caiu, sem terminar a obra mais sonhada de sua vida. E caiu humilde e pobremente, da mesma forma porque tombou o seu irmão dos Alpes, aquele benemérito Padre Antônio Sepp, que tudo renunciara do grande mundo, pelo sonho da catequese na América. O Santo e o Artista reencontraram sua pátria nas alturas, de onde haviam trazido a melancolia dos exilados..."
Caro Darlan,
ResponderExcluirMe chamo Igor e descobri esse texto procurando na internet o nome de meu bisavô Valentin Von Adamovich. Na verdade, resolvi buscar mais informações sobre ele após falecimento da minha avó e sua filha, Nora Adamovich, no ano passado. Eu possuo muitas fotos e registros pessoais de Valentin, porém conheço muito pouco de sua história. Você sabe como posso conseguir mais informações?
Obrigado