quarta-feira, 6 de janeiro de 2010

Reflexão (ou divagação) de início de ano


Chegamos em 2010. Início de uma nova década. Muita gente dizia que não chegaríamos no ano 2000 e que o inicio de um novo século e milênio prenunciava o fim dos tempos. Em todo caso, isso já faz 10 anos, mas pensando bem, acho que o fim do mundo não será com bombas, invasões alienígenas, catástrofes naturais etc. Acho que “o fim” já está em processo, nas relações tramadas pelo próprio homem com os fios da discórdia, do poder, dos interesses pessoais e econômicos em detrimento do humano.
O que se vê e se lê por aí é que o mundo avançou muito nesses últimos 10 anos. A expansão tecnológica, o acesso à bens e serviços, a comunicação. O encurtamento das distâncias, promovido pelo processo alienante e desenfreado da globalização ficou mais visível nessa década que se finda, assim como a falta de rumo da humanidade. Parece até um processo às avessas: quanto mais diz que avança mais o ser humano regride. Chego a pensar que em breve seremos macacos dirigindo carrões, morando em arranha céus, acessando a internet (me desculpem os macacos, mas não encontrei outro animal para essa analogia e já que somos seus descendentes conforme a ciência, preferi não botar outro bicho nessa história). Queria poder dizer que estou sendo pessimista, mas infelizmente não posso, creio até estar sendo pouco realista ao dizer que isso ocorreria “em breve”, pois o que se tem visto de macaquices por aí não é brincadeira.
De que adianta os “avanços” da ciência se o homem não se entende nisso tudo. O que se vê é que ele tem se perdido cada vez mais nesse processo. Ô bicho complicado! Mas, “puxando a brasa pro meu assado”, acredito que boa parte disso provém da falta de percepção do homem sobre sua historicidade. Falta a compreensão de que somos hoje continuidade de um todo que perpassa a atualidade e que seguirá, independente da nossa permanência sobre a Terra. Afinal, contra o tempo ninguém pode. Tem uma frase de uma peça do Caio Fernando Abreu que diz que “o tempo burila o tosco”. E existe hoje algo mais tosco que as ações impensadas do ser humano? Complementaria isso com aquela máxima de que “o tempo é implacável”.
Vive-se hoje com o pensamento no próprio umbigo. Pensa-se em viver o agora, e em se garantir para o futuro próximo, como se isso fosse possível. Quantos de nós paramos para pensar que tudo isso demanda de uma caminhada do nosso passado vivido? E de um passado anterior a nós? E digo ainda, do passado mais remoto da humanidade? Por que será que insistimos tanto nos mesmos erros há anos? Por que será que não aprendemos com as adversidades? Porque será que mesmo sabendo as respostas insistimos nas alternativas contrárias? Posso estar sendo prepotente em afirmar isso, mas a resposta é a falta de reflexão sobre nossa história. Mas para refletir é preciso conhecer a história, o que já elimina nesse estágio boa parte da população.
Gosto de aproximar minhas ideias com situações locais. Por isso, ressalto meu pensamento através das contradições existentes em Santo Ângelo quando falamos em história. Aqui na cidade, nossos representantes enchem a boca há anos para falar em seus discursos do “solo missioneiro”, do “ser missioneiro”, do turismo, da nossa rica história de 300 anos, mas protelam ao máximo as políticas públicas para a proteção do patrimônio histórico local. Não sabem do que falam, não conhecem a sua própria história, representam uma comunidade mas não buscam suas raízes. São os inventores de um “missioneirismo” de fachada. Vale lembrar-lhes que é da proteção desse patrimônio, material ou imaterial (porque não é só de prédios que estamos falando, caso algum legislador desinformado não saiba) que a sociedade atual e do futuro se espelhará para o desenvolvimento da cidade.
Mas isso tudo está dentro daquele processo maior do qual falava anteriormente. Analisando a história política local dos últimos 150 anos, a falta de apreço aos bens culturais locais não deveria mais me causar espanto. Não sei ainda como consigo me indignar. Acho que é pelos meus 24 anos de vida, que ainda me permitem alimentar utopias e acreditar que vale a pena insistir. Acho que é também porque acredito no ser humano, não em todos...existem exemplares em que realmente não deposito esperanças...Confesso que minha prepotência as vezes, chega ao nível de querer poder intervir na teoria de Darwin e incluir alguns critérios para a seleção natural da espécie.
Por fim, continuo acreditando na força de armas como a arte, a cultura e o conhecimento da história. Ao contrário das armas comuns, que causam dor e destroem, essas silenciosamente atingem aquilo que comanda as ações do homem no mundo: a sua sensibilidade (ou a falta dela). Creio que é de uma visão mais sensível e menos materialista que precisamos. Afinal de contas, ou olhamos para o passado com mais respeito e responsabilidade ou continuaremos no caminho de nossas ações impensadas, da superficialidade que tem marcado a sociedade mundial e acabaremos por deixar que o tempo se encarregue do resto.

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