segunda-feira, 31 de agosto de 2009

A Região Missioneira e os Primeiros Habitantes

Mãe e filha em aldeia guarani mbya . Foto: Milton Guran, 1988.

Para que se compreenda o desenrolar do processo de disputas por território entre portugueses e espanhóis e a conseqüente fundação das missões jesuítico-guarani, é necessário averiguarmos aspectos da cultura da etnia que ocupava as áreas do planalto ás margens dos rios Ijuí e Uruguai, quando da chega da dos europeus: os Guarani. A reconstrução da cultura dessa população pré-histórica segundo vários arqueólogos e historiadores é a mais fácil de se conceber devido à presença constante de aspectos e costumes desse povo desde o decorrer da ocupação do território pelos europeus até os dias atuais.

A partir dos inúmeros estudos realizados sobre a chegada dos Guarani no atual território gaúcho, a teoria mais provável remete a uma gradual migração de levas de indivíduos da família Tupi-guarani da região amazônica, provavelmente por motivos de adversidades naturais, e que se dispersaram dentro do território do atual Brasil, Argentina e Paraguai. Essa migração resulta na ramificação do tronco Tupi-guarani em duas populações com diferenças lingüísticas, econômicas e tecnológicas: a primeira, que ocupou a região do Paranapanema e o litoral leste do Brasil, ou seja, de clima tropical, e uma segunda, que é o alvo da nossa atenção, que ocupou o sul do Brasil e regiões correspondentes aos atuais Paraguai e Argentina, ou seja, em um clima mais frio, o que implicou na modificação da cultura agrícola para sua adaptação ao território.

Segundo estudos arqueológicos “as primeiras aldeias da tradição tupi guarani no Rio Grande do Sul estão ao longo da inflexão do rio Uruguai, no nordeste do estado. Estima-se que as mais antigas remontam ao tempo do nascimento de Cristo ou um pouco depois” (SCHMITZ,1991: 302-303). Quando analisamos o processo migratório guarani, além da busca por melhores terras para aplicação de sua horticultura de subsistência, nos cabe analisar um ponto particular da cultura desse povo, que se expressa na crença da busca de uma Terra-sem-Mal, ou Ivy-Marae, na língua guarani. Na atualidade, muitos estudiosos acreditam que essa crença guarani, que se expressa na procura de um paraíso na terra “(...) onde os alimentos fruíam com permanente fartura e não havia necessidade de trabalhar para plantar e colher”(LESSA, 1984: 1), além de caracterizar ideologicamente o nomadismo dessa população, possa ter influenciado em igual, ou maior proporção, essa dispersão populacional ocorrida a mais de 2.000 anos.

Os Guarani frente as demais etnias (Kaigang e Charrua), que faziam parte do cenário riograndense antes da chegada dos europeus, se destacaram pela elevada complexidade de organização religiosa, familiar, artística e tecnológica. Não se pode ignorar nesse sentido, as demais populações existentes no Rio Grande do Sul naquele momento, bem como suas peculiaridades culturais, mas os Guarani, talvez por um contato anterior com os povos andinos, como acreditam alguns estudiosos, conseguiram se adaptar e tirar da natureza de forma mais elaborada aquilo que necessitavam para sua sobrevivência.
Fontes:
SCHMITZ, Pedro Ignácio. Migrantes da Amazônia: a tradição Tupiguarani (p. 295-330) In Arqueologia Pré- histórica do Rio Grande do Sul. Org.Arno Kern. Porto Alegre: Mercado Aberto, 1991.
LESSA, Luis Carlos Barbosa. Rio Grande do Sul: prazer em conhecê-lo. Rio de Janeiro: Globo,1984.

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