segunda-feira, 31 de agosto de 2009

A Região Missioneira e os Primeiros Habitantes

Mãe e filha em aldeia guarani mbya . Foto: Milton Guran, 1988.

Para que se compreenda o desenrolar do processo de disputas por território entre portugueses e espanhóis e a conseqüente fundação das missões jesuítico-guarani, é necessário averiguarmos aspectos da cultura da etnia que ocupava as áreas do planalto ás margens dos rios Ijuí e Uruguai, quando da chega da dos europeus: os Guarani. A reconstrução da cultura dessa população pré-histórica segundo vários arqueólogos e historiadores é a mais fácil de se conceber devido à presença constante de aspectos e costumes desse povo desde o decorrer da ocupação do território pelos europeus até os dias atuais.

A partir dos inúmeros estudos realizados sobre a chegada dos Guarani no atual território gaúcho, a teoria mais provável remete a uma gradual migração de levas de indivíduos da família Tupi-guarani da região amazônica, provavelmente por motivos de adversidades naturais, e que se dispersaram dentro do território do atual Brasil, Argentina e Paraguai. Essa migração resulta na ramificação do tronco Tupi-guarani em duas populações com diferenças lingüísticas, econômicas e tecnológicas: a primeira, que ocupou a região do Paranapanema e o litoral leste do Brasil, ou seja, de clima tropical, e uma segunda, que é o alvo da nossa atenção, que ocupou o sul do Brasil e regiões correspondentes aos atuais Paraguai e Argentina, ou seja, em um clima mais frio, o que implicou na modificação da cultura agrícola para sua adaptação ao território.

Segundo estudos arqueológicos “as primeiras aldeias da tradição tupi guarani no Rio Grande do Sul estão ao longo da inflexão do rio Uruguai, no nordeste do estado. Estima-se que as mais antigas remontam ao tempo do nascimento de Cristo ou um pouco depois” (SCHMITZ,1991: 302-303). Quando analisamos o processo migratório guarani, além da busca por melhores terras para aplicação de sua horticultura de subsistência, nos cabe analisar um ponto particular da cultura desse povo, que se expressa na crença da busca de uma Terra-sem-Mal, ou Ivy-Marae, na língua guarani. Na atualidade, muitos estudiosos acreditam que essa crença guarani, que se expressa na procura de um paraíso na terra “(...) onde os alimentos fruíam com permanente fartura e não havia necessidade de trabalhar para plantar e colher”(LESSA, 1984: 1), além de caracterizar ideologicamente o nomadismo dessa população, possa ter influenciado em igual, ou maior proporção, essa dispersão populacional ocorrida a mais de 2.000 anos.

Os Guarani frente as demais etnias (Kaigang e Charrua), que faziam parte do cenário riograndense antes da chegada dos europeus, se destacaram pela elevada complexidade de organização religiosa, familiar, artística e tecnológica. Não se pode ignorar nesse sentido, as demais populações existentes no Rio Grande do Sul naquele momento, bem como suas peculiaridades culturais, mas os Guarani, talvez por um contato anterior com os povos andinos, como acreditam alguns estudiosos, conseguiram se adaptar e tirar da natureza de forma mais elaborada aquilo que necessitavam para sua sobrevivência.
Fontes:
SCHMITZ, Pedro Ignácio. Migrantes da Amazônia: a tradição Tupiguarani (p. 295-330) In Arqueologia Pré- histórica do Rio Grande do Sul. Org.Arno Kern. Porto Alegre: Mercado Aberto, 1991.
LESSA, Luis Carlos Barbosa. Rio Grande do Sul: prazer em conhecê-lo. Rio de Janeiro: Globo,1984.

sexta-feira, 28 de agosto de 2009

Nomes de Ruas e Praças

Praça Rio Branco na década de 20. Hoje a Praça tem o nome de Leônidas Ribas, ou a popular Praça do Brique.


Já acostumamos diariamente a dizer que tal local fica na "Marechal", ou ali na "Marquês" ou então no Calçadão da "Vinte Cinco". Esses nomes se tornam tão familiares que nem paramos para refletir o significado. Porém ele existe e um nome quando falado se perpetua. Nomear as ruas, praças e prédios públicos é uma maneira de "tornar presente" aquele ou aquilo que um determinado grupo institui como exemplo a ser seguido. Uma homenagem a personagens históricos ou da comunidade, que muitas vezes reflete a visão daqueles que detem o poder.
Para quem acha que as ruas da nossa cidade sempre tiveram o mesmo nome vale a pena conferir o ato nº165 do ano de 1925, no qual o intendente Carlos Kruel dá novo nome a algumas ruas, praças e avenidas da cidade.

" Acto nº 165 A de 9 de setembro de 1925
Substitui diversos nomes de praça,
ruas,avenidas e travessas da Villa.

O Dr. Carlos Kruel, Intendente do Município de Santo Ângelo.
Considerando ser contrário à fraternidade dar às ruas, avenidas e praças denominações que relembrem as dissensões que tivemos com as outras nações;
Considerando que na actual nomenclatura das ruas da vila existem nomes de batalhas em que nos empenhamos contra os povos irmãos sul- americanos;
Considerando que em vez de denominações sem significado é preferível designar as vias publicas por nomes que mantenham vivazes os sentimentos civicos da população;
No uso das attribuições que lhe confere o Parágrafo 2º do artigo 18 da Lei Organica,
Decreta
Artigo 1º- Ficam substituídos os nomes das praças Liberdade e Marechal Deodoro;das ruas Julio de Castilhos, General Carneiro, 13 de Maio, Tamandaré, Republica, Itararé, Nova, Humaytá, Dr. Borges Medeiros, Guarany e Itaquarinchin; das travessas Ipiranga, Santo Angelo,Tuyuti e 12 de Outubro e das avenidas 24 de Maio e 14 de Julho, respectivamente pelos de Julio de Castilhos e 20 de Setembro; Marechal Deodoro, 3 de Maio, Barão de Santo Angelo, Marquez de Tamandaré, Basilio da Gama, Antonio Netto, David Canabarro, Florencio de Abreu, Borges de Medeiros, Tiradentes e José Garibaldi; rua 13 de Maio, rua Barão do Triunpho, rua Uruguay e rua 12 de Outubro; Rio Grande do Sul e rua 14 de Julho.
Artigo 2º- Revogam-se as disposições em contrário.
Santo Angelo, 9 de setembro de 1925."
O mais curioso são as justificativas à lei. São períodos históricos que se sobrepõem. Períodos ou fatos que não são mais propícios aos "interesses" locais ou nacionais. Exemplos sempre presentes de como a história se transforma. São as escolhas e desejos daqueles que exercem alguma influência na sociedade, seja ela política, economica ou cultural que dizem daquilo que deve ser lembrado ou esquecido.

quarta-feira, 26 de agosto de 2009

O General Firmino de Paula

General Firmino de Paula (sentado) e seu destacamento em Santo Ângelo.


A cidade de Santo Ângelo foi marcada pela influência do Partido Republicano no inicio de sua história político-administrativa. Várias figuras republicanas tiveram influência na política a nível estadual e federal. Podemos citar nomes como Pinheiro Machado e Venâncio Ayres, hoje nomes de praça e rua em nossa cidade e, no entanto pouco nos interessamos em saber suas histórias e analisar a simbologia dessas figuras como influencias na formação da identidade político-social da nossa sociedade.
Mas essa é uma discussão que precisa ser analisada a fundo, num outro momento, porém merece estar presente, quando relembramos um pouco da história de uma das figuras mais polêmicas e emblemáticas da política local: General Firmino de Paula, o primeiro intendente de Santo Ângelo de 1892 a 1896.
Firmino de Paula foi defensor ferrenho do regime republicano instaurado por Borges de Medeiros e Júlio de Castilhos, era intendente da Santo Ângelo no momento em que se instalou a Revolução Federalista de 1893. Batalha nessa em que se empenhou defendendo os interesses de Júlio de Castilhos, expoente de uma política republicana calcada no presidencialismo e norteada pelos princípios filosóficos do positivismo e que encontrava consonância com o governo a nível federal. Do lado contrario estavam os federalistas, que lutavam contra o sistema castilhista, denunciando os desmandos do governo republicano e buscando uma forma de governo baseada no parlamentarismo e no fortalecimento do Brasil enquanto federação.
Firmino de Paula que passara a maior parte de sua vida em Cruz Alta, era rico fazendeiro, filho do Barão e da Baronesa do Ibicuhy, foi convidado por Julio de Castilhos a assumir a administração da nova freguesia de Santo Ângelo. Quando se instaurou a Revolução Federalista, através da organização de uma frente de combate, o General contribuiu para a vitória dos republicanos.
O general era conhecido entre os seus pela sua autoridade, muitas vezes, exercida em tempos de guerra, pela força física e pelos requintes de crueldade. Muito sangue se derramou pelos campos gaúchos, muitos corpos sem cabeça tombaram. Um dos fatos mais interessante é o que envolve a figura de Gumercindo Saraiva, caudilho federalista, que não teve sossego nem depois de morto pelas tropas republicanas.
Foi uma cena tenebrosa o que as tropas do chefe republicano Firmino de Paula cometeram. Descoberta a sepultura do caudilho federalista Gumercindo Saraiva, no cemitério dos capuchinhos de Santo Antônio, dois dias depois de sua morte, ocorrida no Caroví em 10 de agosto de 1894 (no estado do Rio Grande do Sul), ordenaram sua profanação. Os seus restos mortais, dizem que amarrados numa estaca ou numa cruz improvisada, foram então expostos no portal do cemitério enquanto que os cavalarianos tiveram ordens de desfilar em frente aos despojos já carcomidos do inimigo. Ali estava "o bandido do Gumercindo", a quem as forças governistas perseguiam sem descanso há dezessete meses.Muitos dos republicanos não resistiram ao ódio que os consumia e cuspiram sobre aquela massa amorfa de carne putrefata e pó.” (Crônica de Aparicio Saraiva, do prof.W.Reyes Abadie, Montevidéu em http://educaterra.terra.com.br/voltaire/500br/gumercindo.htm ).
Na Revolução de 1923, o general, apesar da idade já avançada, lutou ao lado de Borges de Medeiros, sucessor de Julio de Castilhos o que, conforme o Álbum do Partido Republicano de 1934, “lhe trouxe como conseqüência abalo para a saúde”. O partido republicano perdurou no poder mais de três décadas, entre Julio de Castilhos e Borges de Medeiros, o que aconteceu de forma verticalizada nas administrações a nível local. Os intendentes nomeados pelo governo estadual eram a forma de manter a hegemonia do poder no interior. Se analisarmos dentro da esfera federal, não eram mais do que simples expoentes locais de uma república proclamada pela minoria oligárquica do país e que defendia os interesses de poucos enquanto o povo era esquecido. Denúncias que viriam a tona anos mais tarde com movimentos e levantes sociais em todo o país, como a Coluna Prestes, por exemplo.
No Jornal A Semana de Santo Ângelo em 21 de agosto de 1919, órgão de imprensa expoente do Partido Republicano, Firmino de Paula vinha a público expressar seu repúdio contra as “calúnias” levantadas sobre sua pessoa.
“Diz esse individuo, que usa o nome de Gaspar Martins, em successivos pasquins, espalhados por todo o Rio Grande, que, ha vinte annos, o povo de Cruz Alta geme sobre a oligarchia da família Paula, que o opprime e avilta, peado em toda sua liberdade, sem garantias de suas propriedades e tudo mais quanto o cerebro de um desalmado pode produzir. Pois bem! Eu provarei que não tomei de assalto as posições que ocupei em Cruz Alta. Nenhum interesse tive em dirigir os destinos políticos e administrativos desta terra, e si, a isso accedi, foi por instancias reiteradas de meus amigos drs. Julio de Cartilhos e Borges de Medeiros, com graves prejuízos materiais”.*
Conforme escritos do Album do Partido Republicano, Firmino morreu pobre depois de ter possuido grandes fortunas aos 86 anos de idade.
Acusações freqüentes, casos escusos, má aplicação de dinheiro público, nomeações de parentes, coronéis e famílias que se perpetuavam no poder, a invisibilidade do povo humilde, a utilização partidária e pessoal dos meios de comunicação eram práticas freqüentes desse período político da história brasileira. Que bom que hoje os tempos são outros e que tudo é bem diferente, não é?

* Na transcrição foi mantida a grafia da época.

Quem desejar saber mais detalhes da história do general, indico a leitura de CAVALARI, Rossano Viero. Os Olhos do General- Por que Firmino de Paula foi um dos homens mais temidos de seu tempo? Martins Livreiro-Editor. Porto Alegre. 2007

terça-feira, 25 de agosto de 2009

A Estação Ferroviária

Avenida Brasil na déc. de 20. Ao fundo a Estação Férrea.


A caixa d'água da Estação.

O prédio da Estação Ferroviária foi construído por Gildo Castelarim, tendo como base um projeto arquitetônico realizado por uma Companhia Inglesa e tendo como espaço uma área de terra doada pelo Intendente Bráulio de Oliveira. A Estação Ferroviária foi inaugurada em 16 de outubro de 1921.
A instalação da estação marcou o desenvolvimento da parte norte da cidade a partir da rua 25 de Julho, incentivou a vinda dos imigrantes, em sua grande maioria alemães, que vieram residir na zona norte da cidade. Muitas indústrias (Cia. De Fumo em Folha, Cia. Algodoeira Sul Rio Grandense, a Fábrica de Banha) se desenvolveram ao longo dos trilhos do trem em volta da Estação. Produtos coloniais vindos dos distritos eram embarcados nos trens.
Além do desenvolvimento econômico do município o prédio representa um dos fatos mais importantes ocorridos a nível nacional durante a República Velha. Foi no interior do prédio que aconteceram as primeiras reuniões que levaram ao levante do 1º Batalhão Ferroviário, no movimento que ficou conhecido como Coluna Prestes, liderada pelo “Cavaleiro da Esperança”, Luis Carlos Prestes, a marcha percorreu mais de 25000 Km em todo o Brasil. Foi da Estação Férrea que em 1930 partiram as forças revolucionárias da região, que levaram Getúlio Vargas à presidência da República.
Conforme o art. 2º da lei nº 825 de 19 de novembro de 1984 encontram-se tombadas todas as benfeitorias pertencentes à antiga gare da viação férrea. Entre essas benfeitorias encontram-se dois vagões de trem utilizados para a locomoção de passageiros, uma caixa d’água importada da Bélgica e um exemplar das casas dos trabalhadores da ferrovia.
A caixa d’água de origem belga foi importada em meados da primeira década do século XX, tendo chegado da Europa ao porto de Rio Grande e posteriormente transportada de trem até o local onde se encontra. Conforme informações da diretora do memorial Neiva Soardi, a caixa d’água possivelmente já se encontrava no local antes da construção da estação, por volta de 1918, pois havia necessidade de abastecer as locomotivas que descarregavam os materiais para a construção do prédio. A caixa é feita de metal especial que não permite o aparecimento de ferrugem e armazenava água exclusivamente para abastecer as locomotivas a vapor.

segunda-feira, 24 de agosto de 2009

24 de agosto: dia do artista

Imagem aérea do Antigo Cine Teatro Municipal.

Apresentação de Balé no Teatro Municipal na década de 50.

Arte, no Aurélio: “Capacidade que tem o homem de, dominando uma matéria, por em prática uma idéia. As artes plásticas. Os preceitos necessários à execução de qualquer arte. Habilidade, engenho. Profissão.” Artista: “Quem se dedica às belas-artes; artesão. Quem revela sentimento artístico. Ator. Operário”.
Operário. Não há palavra melhor para definir o artista. Mas diferente dos operários das industrias, o artista é o operário da criação, da expressão, da união corpo-palavra-alma, não necessariamente nessa ordem...
Já imaginou um mundo sem música, sem cor, sem imaginação??? Corpos estáticos, expressões rígidas, palavras formais, imagens estáticas... Não dá nem pra pensar não é?
Pois é, mas como pode algo tão necessário quanto o operário-artista ser muitas vezes tão pouco valorizado? E não falo de artista de tv, de cinema, de grandes bandas ultra-mega-super famosas...Falo daquele artista que faz da luta pelo reconhecimento, e pelo respeito daquilo que produz, a sua vida. E não precisa ser “superstar”, nem “star” daquilo só...Falo também dos artistas de intervalo, aqueles que escrevem ao meio dia, entre os apitos da fábrica... ou então que compõem de tardinha no ônibus indo pra faculdade...ou que ensaiam no fim de semana quando conseguem escapar dos compromissos com a família...Esses são artistas tanto quanto, ou mais, que os “stars”....operários mesmo...operários de sensibilidades e sonhos...
Tenho um amigo que sempre diz que artista é o único profissional que não pode fazer greve. O único que sai prejudicado é ele mesmo. Ele é o operário que para protestar trabalha. E trabalha mais e não desiste. Não se entregar é sua maior bandeira de guerra.
Todo mundo tem sua forma de arte, seja ela rabiscar figuras na última página do caderno, durante aquela aula chata, seja escrever poemas que rimam amor e dor , quando aquela pessoa passa perto, seja até cantar no chuveiro. Aí é que me pergunto como as pessoas podem não perceber a importância daqueles que dedicam suas vidas ou parte delas pra isso.
O artista não é menor, nem menos importante que os senhores advogados, médicos e políticos que adoram colocar o DR na frente do nome. Ele não é menos importante porque ele é essencial! Desculpem minha falta de modéstia, mas a renego nesse momento. E depois sou artista...se não gostasse de aparecer trocava o palco pelo mato.
Não, eu não esqueci que esse espaço é pra falar de Santo Ângelo e sua história. Mas é que me dei um pouco ao direto de burlar o protocolo...acho que me empolguei e o fiz em primeira pessoa, algo inconcebível ao meio acadêmico, mas também que se exploda a academia. Antes de tudo sou artista e precisava falar disso.
No que tange a Santo Ângelo, sua história e seu patrimônio, a valorização da arte e tudo mais, deixo um registro. Triste, mas sempre presente, e que não pode ser esquecido: as fotos do antigo Cine Teatro Municipal, que se localizava na esquina das ruas Marquês do Herval e 25 de Julho, e que foi demolido na década de 80. Possivelmente demolido por ordem de Drs. que tem belíssimos quadros adornando as paredes de suas salas e que apreciam boas músicas. E o pior é que certamente algum dia esses mesmos Drs. devem ter até cantado no chuveiro!!!
Eita! Palmas aos artistas e à hipocrisia... acredito que um dia um estudo histórico e antropológico profundo da sociedade santo-angelense me ajude a dissecar e compreender tudo isso...

sexta-feira, 21 de agosto de 2009

O Prédio da Prefeitura Municipal

Foto da Rua Antunes Ribas possivelmente no inicio da déc. de 1920. Em primeiro plano o prédio da loja Maçônica "Venâncio Aires". Ao fundo a Igreja anterior à catedral e ao lado o prédio da Intendência.

Prédio da Prefeitura Municipal na década de 1930.


O prédio encontra-se no centro histórico do município, no sitio arqueológico da redução de Santo Ângelo Custódio.
O prédio da intendência datado de 1880 e que abrigava também o fórum, o quartel e a cadeia da antiga Vila de Santo Ângelo não correspondia mais, na década de 1920, às necessidades da comunidade local, era preciso um prédio mais amplo e confortável.
O inicio da obra de construção do prédio atual aconteceu durante o governo do então intendente Carlos Kruel (1924/1928), quando em 1927, foi firmado contrato com o arquiteto através de concorrência pública, Sr. Santiago Borba de Cachoeira/RS.
Conforme ato nº 37 de 27 de agosto de 1928, o intendente Carlos Kruel, desapropria o prédio da Loja Maçônica “Venâncio Aires” junto a Antunes Ribas, para o andamento da construção do atual prédio da prefeitura. Pelas proporções descritas, o prédio da loja ocupava o espaço que hoje dá lugar à Prefeitura e também à Câmara de Vereadores.
A obra de construção foi terminada em 1928 na gestão do intendente Sr. Ulysses Rodrigues e abrigava na época além do Fórum, todas as demais repartições federais e estaduais, sendo sede do Poder Executivo Municipal até os dias atuais.
O prédio foi inaugurado em 27 de maio de 1929 e foi tombado por lei municipal de 12 de abril de 1994.

quinta-feira, 20 de agosto de 2009

Domingos Fortes : entregador de gelo e boxeador

Domingos Fortes "O Tigre da Serra"

Domingos de Oliveira Fortes nasceu em São Luis Gonzaga, no dia 04/01/1913. Mas, conforme informações de familiares, ele teria nascido antes dessa data, mas se registrou somente em 1935, daí o equivoco. Em entrevista A Tribuna Regional em 05/11/1981 ele relata que data real seria 04/01/1910. Em sua coluna Memória no jornal das Missões de 26/11/2005 a professora Bedati Finokiet relata: “Este fato se explica porque naquela época os negros não registravam seus filhos nos cartórios para não serem localizados e perseguidos, em função do preconceito”.
Ainda pequeno veio residir em Santo Ângelo, teve como primeiro emprego o de motorista de ônibus da linha Santo Ângelo/São Luiz Gonzaga. Posteriormente trabalhou na extinta profissão de entregador de gelo. De manhã cedo ele passava com sua carroça pelas casas, clubes, hospitais, bares e restaurantes entregando enormes barras de gelo que abasteciam as geladeiras da época.
Na Coluna Memória de 14/11/1998, Bedati Finokiet escreve que: “...a carroça utilizada para a entrega, possuía uma caixa grande forrada com lâminas de metal, onde transportava-se o produto que era produzido à noite (pelo próprio Domingão) na fábrica de gelo do Sr. Roberto Frey, localizada na zona sul da cidade – atual bairro Sabo”. Porém a reportagem do Jornal A Tribuna Regional de 05/11/1981 relata que ele“...era entregador de gelo de uma fábrica que existia na Travessa Mauá”. Há ainda o relato do Sr. Armindo Braatz, na A Tribuna Regional de 15/02/1997, que reafirma “O Senhor Domingos Fortes mais conhecido pela alcunha de Domingão, pessoa afável, cortês e que colocava a honradez e o cumprimento do dever como norma de vida. Todo mundo na cidade o conhecia, e ele, no sentido inverso, conhecia a todos. Domingão era distribuidor de gelo fabricado pelos Frey.”
Mas não foi só a profissão de entregar gelo que destacou Seu Domingão na comunidade santoangelense. Foi a profissão de boxeador, exercida nas horas vagas que o deixou conhecido como “O Tigre da Serra”. Segundo relatos do próprio Domingos Fortes o gosto pelo esporte na cidade foi despertado pelo Capitão carioca Mário Quintanira Braga que, vindo aportar em Santo Ângelo, montou um ringue no quartel para os militares. O interesse pelo boxe estrapolou os muros do quartel e despertou o interesse de um grande número de jovens sendo montado assim um ringue junto ao Clube Gaúcho. Vários torneios de boxe aconteceram na cidade, além do Gaúcho, lugares como o Cine Apolo e o Clube 28 de Maio sediaram disputas do referido esporte. Domingão lutou cerca de 38 lutas oficiais da quais perdeu 6, empatou 2 e venceu 30, sendo reconhecido o campeão missioneiro de boxe.
Foi casado com a Sra. Honorina Rodrigues e pai de dois filhos, entre eles o Sr. Adão Fortes, conhecido em nossa cidade pelo seu relevante trabalho de educação para o trânsito com alunos das escolas da cidade. Em 27/11/1981 o Sr. Domingos Fortes recebeu da câmara de vereadores o título de Cidadão Honorário de Santo Ângelo. Faleceu em 06/02/1993.

Fonte: Coluna Memória Jornal das Missões dias 28/11/1998 e 26/11/2005; Coluna Última Página do Jornal A Tribuna Regional de 15/02/1997; Reportagem do jornal A Tribuna Regional de 05/11/1981.

quarta-feira, 19 de agosto de 2009

As Três Igrejas

Reprodução da gravura mostrando a parte da frente da Igreja de Santo Ângelo Custódio em 1860. (Fonte: FURLONG, 1962)

Igreja da Vila de Santo Ângelo. Década de 20.





Catedral Angelopolitana. Foto de Fernando Gomes


As três igrejas que se ergueram no espaço da Praça Pinheiro Machado nos últimos três séculos são um exemplo da forma como a cidade vai se transformando. Essa metamorfose é reflexo de toda uma cadeia de ações marcadas pelas aspirações sociais, econômicas e culturais de diferentes períodos históricos pelos quais nossa sociedade passou ao longo desses mais de trezentos anos.
A primeira Igreja, erguida pelos jesuítas e pelos guarani da redução de Santo Ângelo Custódio tinha como finalidade principal ser o símbolo máximo do projeto empreendido pela Companhia de Jesus: reduzir os nativos do Novo Mundo em aldeias e fazer-lhes conhecer, com base na religião católica, os costumes e a língua dos europeus. Em outras palavras, trazer-lhes a “civilidade”, dentro da concepção européia da época, necessária para expandir os domínios dos conquistadores. Não podemos esquecer que com isso, a Igreja Católica também expandia sua rede de fiéis e aumentava seu poder. Nesse sentido, a construção de um grande templo junto aos povoados missioneiros se mostra como a materialização da estrutura social e cultural do período.
A segunda Igreja, erguida pelos colonizadores após 1860 em diante, representou uma forma de estabelecer a existência da nova freguesia. Antes mesmo de existir uma estrutura administrativa, era preciso estabelecer a paróquia local. A religiosidade representava de alguma forma um elemento de alento e segurança, tanto para os novos colonos, e suas árduas tarefas no inóspito local, assim como para a elite, que garantia seu poderio econômico e administrativo.
O último e atual templo que conhecemos como Catedral Angelopolitana, que iniciou suas obras em 1929 e que só teve suas torres concluídas no inicio da década de 70, já surge dentro de um novo contexto. A Catedral não foi fruto da necessidade de marcar território, mas sim uma forma de perpetuar a história das outras duas. Com traços que remontam a época das missões jesuíticas, ela expressa esse período. Porém, ao mesmo tempo, se levarmos em conta o grande espaço de tempo que levou para ser erguida, sempre com a efetiva participação da comunidade, ela diz também do empenho e da luta de um núcleo de pessoas para efetivar o projeto, reforçando a história dos primeiros moradores.

terça-feira, 18 de agosto de 2009

A cidade e suas transformações

Praça Pinheiro Machado no ano de 1900.


Essa imagem, a mais antiga que se tem registro da Praça Pinheiro Machado e seu entorno, remonta a Vila de Santo Ângelo, muito distante do que vemos hoje no Centro Histórico do nosso município.
Na foto podemos vislumbrar ao fundo a Igreja da Vila, erguida sobre o local que antes havia abrigado o templo do povoado missioneiro. Ao lado esquerdo da Igreja Matriz, no local que antes fora o cemitério da redução, foi erguido o prédio da Intendência Municipal, que abrigava também o quartel, a cadeia e o fórum da comarca. Ao lado ainda podemos ver as casas que hoje são o Museu Municipal e o prédio da Moto Peursi (esses merecem escritos individuais sobre sua história), construídos no espaço que antes dava lugar às casas dos guarani da redução.
Essa foto nos remete a pensar sobre os signos impressos nas cidades. Como se fosse um organismo vivo, movido pelos desejos humanos, a cidade se desfaz e se refaz. Está sempre em movimento.
A historiadora Sandra Pesavento deixou essa percepção de cidade, quase que poeticamente registrada nas seguintes palavras:
“... a cidade foi, desde cedo, reduto de uma nova sensibilidade. Ser citadino, portar um ethos urbano, pertencer a uma cidade implicou formas, sempre renovadas ao longo do tempo, de representar essa cidade, fosse pela palavra, escrita ou falada, fosse pela música, em melodias e canções que a celebravam, fosse pelas imagens, desenhadas, pintadas ou projetadas, que a representavam, no todo ou em parte, fosse ainda pelas práticas cotidianas, pelos rituais e pelos códigos de civilidade presentes naqueles que a habitavam. Às cidades reais, concretas, visuais, tácteis, consumidas e usadas no dia-a-dia, corresponderam outras tantas cidades imaginárias, a mostrar que o urbano é bem a obra máxima do homem, obra esta que ele não cessa de reconstruir, pelo pensamento e pela ação, criando outras tantas cidades, no pensamento e na ação, ao longo dos séculos.”


segunda-feira, 17 de agosto de 2009

67 anos da Biblioteca Pública Municipal

Biblioteca Pública Municipal hoje.

Auditório da Biblioteca Pública quando funcionava junto à Acisa, apresentação da peça "Pluft o Fantasminha"

Seção Infantil da Biblioteca Pública na década de 60.



A Biblioteca Pública Municipal foi criada conforme decreto-lei nº 19 de 17 de agosto de 1942, sendo aberta à comunidade somente no dia 22 de março de 1943.
O trabalho j atendimento teve inicio em uma sala junto a Prefeitura Municipal, posteriormente em sala alugada junto ao prédio da Associação Comercial de Santo Ângelo. Em 1959, ainda junto a ACISA a Biblioteca ganhou um auditório, que era utilizado para apresentações artísticas de grupos da comunidade.
Junto ao Arquivo Histórico, existe um exemplar da primeira edição de uma revista intitulada “O Pica-pau”, editada pela seção infantil da Biblioteca Pública Municipal, datada de março de 1948, com tiragem mensal (não há registro de outras tiragens, possivelmente tenha sido única edição). A revista mimeografada fazia indicações de leitura, curiosidades, seção chamada “Nossa música”, com o histórico do Hino Brasileiro, leituras infantis, charadinhas, entre outros assuntos.
Totalizando 7 páginas de ofício datilografadas a revista trazia em sua contra-capa o levantamento do movimento da biblioteca de setembro de 1947 à fevereiro de 1948. Com uma média mensal de 851 obras consultadas na sede ou retiradas para leitura a domicilio.
Uma das curiosidades da revista é o seguinte anúncio: “Na próxima semana haverá sessão de cinema nesta biblioteca, com exibição de diversos filmes educativos e vários desenhos gozadissimos. Não percam mais essa oportunidade. Entrada gratuita.”
A Biblioteca Pública recebeu posteriormente o nome de BIBLIOTECA PÚBLICA MUNICIPAL DE SANTO ÂNGELO – POLICARPO GAY, em homenagem ao prefeito da época de sua criação. Em 03 de dezembro de 1992 ganhou espaço próprio junto ao Centro Municipal de Cultura.
Completando hoje 67 anos de existência a Biblioteca Pública Municipal encontra-se em processo de informatização e conta com um acervo de 40.000 obras atendendo uma média de 2.300 à 2.500 pessoas ao mês.
Localizada junto ao Centro Municipal de Cultura na Rua Três de Outubro, 800 a biblioteca está aberta ao público de segunda à sexta-feira das 8h 30 min às 12 h e das 13h30min às 19h e nos sábados das 8h30 min às 11h 30min.

Fontes: Biblioteca Pública Municipal , através da coordenadora Teresinha Angst e Arquivo Histórico Municipal.


A Reocupação do Antigo Povoado

Em janeiro de 1857, é criada por Lei uma freguesia no então distrito de Santo Ângelo, que pertencia ao município de Cruz Alta, sem que houvesse sequer uma capela ou expressivo número de moradores no local. Mas a real intenção era criar um novo núcleo administrativo independente, com separação de eleitores.
Hemetério da Silveira, que esteve no local da antiga redução em 1859, relata que “o mato que crescera mal permitia avistar de longe, por entre as frondas das árvores, a parte superior do frontispício do antigo templo”.
A ocupação do espaço da antiga redução ocorreu nesse mesmo ano de 1959 quando os Srs. Antônio Manoel de Oliveira e o Dr. Antônio Gomes Pinheiro Machado, vereador em Cruz Alta, começaram a ocupação do local para sede da paróquia da nova freguesia. Juntamente com outros proprietários de terra da região desmataram o local, expondo os remanescentes dos antigos edifícios da redução. Aproveitando as estruturas dessas construções, passaram a erguer no entorno da antiga praça uma nova povoação.
Na foto acima podemos observar um grupo de pessoas nas ruínas de uma casa das reduções nos primeiros anos do século XX. Presume-se que seja da redução de Santo Ângelo, porém não há informações seguras a esse respeito.
Conforme Hemetério da Silveira em sua última visita à Vila de Santo Ângelo, em 1886, uma das antigas casas de indígenas era aproveitada por uma família pobre, as outras três das quatro que ele havia registrado em 1860, já haviam sido transformadas em casas novas.

Fonte: YUNES, Gilberto Sarkis. Santo Ângelo 1897: Povoação Inicial e Reconstituição do Traçado da Vila. 1994.

sexta-feira, 14 de agosto de 2009

Plano Urbanístico da Redução de Santo Ângelo Custódio



A foto acima reproduz o plano da disposição espacial da redução de Santo Ângelo Custódio fundada em 1707, no espaço onde hoje temos a Praça Pinheiro Machado e seu entorno.
A História das Missões Jesuíticas no lado oriental do Rio Uruguai, tem seu desfecho com a Guerra Guaranítica em meados do século XVIII, como consequência do Tratado de Madri e a permuta de terras entre Espanha e Portugal.
Após a Guerra, durante quase um século o povoado que antes fora sede da última das Sete Reduções do lado oriental ficou abandonado. O mato crescera e tomara conta de tudo. Apenas no final da década de 1850 é que chegariam os primeiros moradores que, se utilizando da proposta urbanística e dos remanescentes arquitetônicos do povoado de Santo Ângelo Custódio, ergueriam aos poucos a cidade que conhecemos hoje.